Film: The Third Generation (1979)
A mixagem de áudio desempenha um papel crucial no sentido da estética, a paisagem sonora composta por uma faixa televisiva e/ou radiofônica constante, por vezes inteligível, por outras indiscriminadas remete uma sensação ao espectador de um estrangulamento e extrapolação desse emparelhamento coercivo das ideias esvaziadas. É perceptível a semelhança dessa estratégia com a fetichização de ideias pelo capitalismo, essas ideias têm um valor social de agência, todavia não provocam a racionalidade do sujeito. Talvez, realmente nesse sentido, a filosofia de Schopenhauer esteja alinhada com o pensamento do grupo, a vontade em si, a vontade distinta de desejo, que surpassa qualquer racionalidade, o mundo como vontade como a necessidade cega de alcançar esse objetivo ou morrer por ele. Quando Fassbinder, coloca essa classe-média-militante como ouvinte de rádio e consumidora assídua de TV, percebe-se que ele adere ao discurso de imbecilização pelo consumo cultura de massas. Se hoje é o YouTube e os videogames os considerados instrumentos da docilização da indústria cultural num sentido foucaultiano, na segunda metade do século XX era a TV e a rádio que recebiam essa denominação. Os personagens sempre estão escutando/assistindo algo de fundo, e por vezes soma-se como um ruído branco que não adere um sentido propriamente dito para o avançar da história ou das relações interpessoais entre as personagens, mas sim para adicionar densidade à tessitura da narrativa cinematográfica e dos personagens. o som da TV e das pessoas falando não param, se misturam e se confundem numa dissonância. Essa miscelânea auditiva e visual é o sentimento constante que perpassa todo o processo criativo da obra. Sarcasticamente, Fassbinder coloca o filho da aristocracia como o único que realmente lê os textos marxistas. Benhard von Stein é pintado como louco durante a narrativa, ou se faz como tal, evocando principalmente a paródia do autor com pessoas de classes altas que compram a luta do proletariado. O empresário (representando a burguesia ou a apropriação do capital) Lurz, armou todo o plano de guerrilha comunista para sabotar a organização da história, para que no fim ele conseguisse investimentos em sua empresa, que precisava de opinião midiática para venda de seu produto (computadores) - aqui é importante denotar a capacidade de esvaziamento/incorporação de discursos e atos políticos no capitalismo - nesse sentido, temos um choque de narrativas, aquela inscrita pelos “jovens intelectuais” de esquerda e os “velhos militantes comunistas”. Os “jovens, clamam por uma resistência à sua condição de existência de opressão e os "velhos" praguejam que a hora já passou. É interessante perceber como essa discussão geracional está presente no longa. Logo no início do filme, há diálogos entre o avô de Edgar e ele sobre a filosofia recorrente, eles, os jovens revolucionários, liam Schopenhauer, o avô pergunta, “porque não ler algo menos pessimista?”. Essa confrontação está presente diversas vezes durante o filme, e concerne o eixo dessa discussão. Afinal, essa juventude que iniciou na política no arremate dos anos 60, desenvolveu-se e desiludiu-se durante os 70, guiava com sua ideologia esvaziada? Não havia organização política necessária para criar um organismo organizado politicamente ou será que tanto as elites quanto o status quo souberam se organizar melhor, antes, durante e depois esses incidentes.